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sábado, 22 de agosto de 2015

Céu descoberto

Cubro-me de tudo
que restou do céu
e me basto de vislumbrar
uma cortina de edifícios
cortando o horizonte
onde voam as almas
dos pássaros
que desenhei na infância

Eternidade

Vejo minha eternidade
coberta de pó
e choram epifanias
no chão onde brotam
primaveras para o amanhã

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Oração simples

Deus,
perdoe-me a sede de nada
e de tudo
de maneira que não
me encontro
na profundidade
de um poço.
Perdoe-me a cegueira
de orvalhos
fartando a grama
de meu quintal,
o olhar sem horizonte
que os pássaros
lançam todo dia
pela cumeeira de meu telhado.
Perdoe a dor
e a aflição
que desconheço,
minha falta de apreço
com o que não se quantifica.
Perdão pela minha doença
de ossos que roem
as ruínas de quem me serve
todos os dias.
O camelo guarda desertos
em suas corcovas
assim como o silêncio
que se esconde no casulo
de uma borboleta.
Eu quero essa sede
de orvalhos
saciando os meus dias.

Grafite

Aonde vai com seu terno,
seu mocassim preto
a se esconder no olho
da multidão?
É esse fosco eterno de seus dentes
adentrando a manhã.
Um chão de graveto,
sua sombra nos viadutos.
Encontro-me no grafite
das ruas
a plantar rosas
com seus espinhos
espetando minha realidade
mais que asas de borboleta
a desenhar a existência
na paisagem dos becos
de onde moro.

Inanição

Guardo- me na
obesidade dos homens;
nutro- me da anorexia
preconizada
numa vidraça
onde as manequins
morrem
de inanição e inércia.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Tudo que tenho

Tudo que tenho é menor do que a razão de ter conhecido você.
Tudo que tenho é como um grão de tesouro que cabe no embrulho do meu coração.
Uma vez que te amo,
é uma razão maior de viver.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Carta aos mentecaptos

Posso ter hoje a maior certeza da vida;
lembrar que, na crista do tempo,
estarei tão presente
como nódoa de manga verde
me inscrevendo
na tábua com letras
de poesia.
Mas isso não me comove...
Há no caminho um ar
exalado dos escombros,
onde os cegos enxergam
apenas o ofício e os préstimos
de uma jornada sem
o júbilo da minha luz.
Não sigo a trilha dos ignorantes, faço-me desatento para não ferir meu coração. Deixo que se façam lobos,
sou exímio caçador.
Moro em qualquer lugar onde justiça seja um telhado para todos
e abdico de quem fala muito
sem conhecer a plenitude das coisas.
Eu, eu sempre me vou,
levo apenas a síntese de tudo, e deixo correr nas águas de um rio,
aquilo que nunca será passado,
pois nunca existiu no meu coração.
Nos vemos no futuro,
se você estiver por lá para
me encontrar.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

O tempo do amor

O amor é um relógio sem ponteiro
é seu sorriso que mora em mim
meu tempo para você, o mais derradeiro
nossa vida um elo que não tem fim

Você é a minha deusa, meu mundo
a súbita essência do meu riso
nosso segredo é um elo profundo
é agora o que eu mais preciso

pode me convidar para tudo
pois o amor não conhece a pressa
e com você o meu amor é mudo

e em mim sempre recomeça
eu quero o arrebatar agudo
no toque dessa beleza expressa.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

No muro da infância

Na minha infância moram
cacos de telha,
esconder no invisível
onde me pegam
de súbito
o pulo de um pé só
a galgar quadrados no chão.
Moram braços
esticados
abraçando o mundo
girando a órbita
de construir poesia
com ciranda
e na varanda
ouvindo as histórias
sob à luz de estrelas.

A pedra cinzenta

Enquanto
pétala que ventila
a tez da lua
se descobre nua
e destila
cor
no crepúsculo
de uma pedra.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Acorde

Acorde,
desperte do seu
sonho de travesseiro
e sinta
a realidade
nua e crua
cortando a retina
dos seus olhos
e penetrando
profundamente em sua
carne
com esse amanhecer
servindo café da manhã
com raios de sol.

Nunca se vá

Nunca se vá
sem me dizer um adeus
sem um afago
sem o doce beijo
do seu sorriso sobre o meu
sem o toque do seu
sussurro sobre
o meu sonho

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Poema Urgente!

Eu deixo minha tarde
de poeira acasalar o grito das andorinhas
Eu deixo fecundar a noite
mais profunda dentro
de mim
e acolher na carne fria
da tua sarjeta
os oceanos colhidos do sereno
desse teto de nuvem,
desse céu grávido de agosto
com seu talher de bronze
a devorar minha vontade.
Eu deixo aberta a porta
comportando minha
ilusão que não quer ir embora.
E visitar a cidade,
e vislumbrar nos olhos
da cidade
essa cisma urbana
de beco e abandono.
Às casas, aos muros,
o seu rascunho desenhado com a silhueta de sonhos
que não alcançou a nuvem mais faminta de abundância.
Abandones essa fábrica
derradeira de vicissitudes
e morras num combate
real de pedras
que fazem doer
à menor queda,
mas não faz quedar
a seiva da árvore que faz
brotar do abismo do ser
a verde constatação
de que germinas quando
tens os pés fincados no chão
como a lucidez de uma raiz.
Eu deixo para amanhã
o que não posso fazer hoje
mas não deixo para hoje o que nunca terá amanhã.
Eu já fiz ontem...

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