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domingo, 21 de junho de 2015

Arremedo

Degrau acima
para encontrar a montanha
de frio que busco,
vencer o medo que não enxergo
quando há limite.

Degrau acima
escolher o céu que me pertence.

E dissipar de um livro
os arremedos,
antes que cedo
caia em redundância.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Decompor

Semeia o sêmen e prega entre as aspas da origem
o  caminho nômade onde galgará
a argila cheia da desidratação de um tempo.
Sente como um espinho que perfura o dedo
e espalha sua virgindade pela umidade
da água que jorra em abundância na solidão de um a pia.
Eu trago os restos de um bagaço
que se acomoda destilado no fundo de um copo,
eu trago a enfisema que se resgatou
de ontem da verdura de uma planta.
A que mascava o delírio de um índio,
que soprava epifanias pela boca de um cidadão de gravata.
Atrele-se em compromisso comigo,
dilate-se ao estado de nada e chegue
onipresente pelo viés de um teclado digital
às janelas e portas do mundo.
Sente-se! Oh Margarida!
Convida-me a usufruir a vida com o que tem de melhor.
Há lacunas em minha palavra,
há dissertações que desconheço
sem descobrir o valor que se perdeu pela página de um livro.
Poente que se faz diluir na íris delgada da minha tarde
e arrasta pássaros pelo côncavo do céu espalhando sua leveza na miopia dos meus olhos
sumindo como as migalhas que roubou de algum telhado.
Eu moro mais a rua que o cômodo
estado de quarto  dos casais.
Camas espalhada na pele da calçada,
a vida calcinada como  um mármore
revestindo a paisagem com os corpos de gente.
Eu moro seu versículo espalhado por seu rosto
a tapar o sol que irradia invadindo
sua manhã.
Eu moro a decomposição da palavra
que vem significar a dor mais que nomear o êxito.
Eu moro viver sem lucidez alguma,
apenas me encarcerar pelo lúdico
que navega nos tropeços de uma criança.
Tatear o vento, morrer de tétano,
ser um fermento que vai multiplicar os pães
que serão digeridos pela acidez da minha fome. 

Entre sombra

Atrás do escuro há verdades que escuto. Há reflexos de um bisturi cortando os retalhos de sombras que deixo no vão de mim.
Um poema é sempre um poema,
é pouco, é sem casca o sumo
doce da laranja,
e o néctar adocicado do mel,
que é refém na morada das abelhas.
É sempre mais pouco que a rua que se comporta como mendiga de gente.
Eu nunca vi por debaixo da poeira
aquele não me quer de poesia, nunca vi num rastro de chão
a pressa abrigando a morte
na próxima curva
e ela acontece tão devagar.
Mas o corpo da mensagem
se encaminha livre para seu destino.
Era como Manoel a observar
a curva do anzol
pelos olhos do peixe,
e não há signo no horóscopo
do lago.
Não havia cisne,
é conversa de feira,
acabar com o feriado e lamber um bate papo
na barbearia do seu Dantas.
O inverno de Dantas tem
mais lua cheia que uma noite inteira de pesadelos.
Essa metamorfose é uma metalinguagem
para dizer de mim
inequívoco, obsoleto, sem tragédia, sem fome nem alimento,
é chama que se acende entre as
pausas de um vagalume.

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