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domingo, 30 de outubro de 2011

Trés jolie

Guarde, nas cinzas do tempo,
as lembranças
para lustrar de absurdo
o cimo da saudade e do riso,
da lágrima e da necessidade
de olhar para dentro
de si mesmo.

Guarde instantes, abraços.
Construa laços precisos.

Mas não guarde arestas
do que não é útil,
nem conserve pensamentos
ruins e alheios
ao brilho dos seus olhos.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

fotografia

na láctea razão
aptidão
de ser beleza
com um olhar
escondido
que ninguém viu
e ainda assim
foi captada
na delgada
teimosia
de uma lente
desfocada

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Sala de ver jornal

Sou um homem performático
na incongruência de me ser
com um ar de visionário
sobrevoando intergalático
o esvoaçado sentimento nú

e agora tão profilático
um tanto estético
hoje lunático
e cibernético
possuindo a inversão
do verso paralelo

considerando o elo
que me fez nascer...

Sou um homem tão disléxico
disperso tudo que disfarço
com a sensação do léxico
que engrenou a roda
de comunicar

Comum é tudo ato sóbrio
comer um enlatado mórbido
com meu andar de ébrio
na sala, enfim, de ver jornal

e entre o seu sal
me escorrer soluçando
a solução de não morrer
calado com meu lado grito

pois não omito a coragem
que me faz viver

sábado, 15 de outubro de 2011

Viés

Não se remenda com trapos
os pedaços arrancados à deriva do dia,
um grito calado - um sussurro,
o próprio silêncio.

Não se remenda a hora esquecida
na labuta, a própria luta
fenecida na guerra.
A própria morte...

Não se costura em fiapos
a dor, um brilho amputado
dos olhos, o instante,
a própria sorte.

Ao preâmbulo da noite, sob o teto
da claridade, esquecemos
pedaços de nós jogados.
E são encantos e tantos
os orvalhos derramados do verniz de existir.

Ao quedar da hora,
as pupilas das estrelas
piscarão seu último sorrir
e tantos fiapos para trás
de singrar o que é sopro e viés
nessa sina de ser gente.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Tréguas

Quem faz esse lugar
de ninguém?

Quem acumula
perícias na
alma de um armazém,
arma do destino,
carma descabido
que me faz refém?

Eu sou desinibido,
um desatino
que jaz na memória
que encarna agora
a glória de ainda
estar lá fora

buscando tréguas
pra sobreviver.

domingo, 2 de outubro de 2011

Lavoura verniz

Erguer a pedra, dilacerar todo fragmento,
a fraqueza, o medo, a sem razão de continuar...

Apontar os olhos ao infinito alvo,
ápice segredo de atingir.

São mãos que trabalham, suores de ontem,
de hoje, de amanhã - E singir os tempos
dentro de um fim: a hora do alcance,

o verbo, o romance, libido é ofício.

Não trarás ao relento os vícios,
nem resquícios de amputadas horas que vagaram
ao chão, os passos invisíveis -

paredes ocas, tijolos e lacunas.

Balança na íris o guerreiro e a guerra,
o prisioneiro da tua gana de terra,
e chuva, e vento, e nuvem.

E é vernissage, lavoura verniz,
bagagem de quem diz no silêncio de uma marquise
o preâmbulo de construir verdades
no sedimento de um olhar - e é fé,

esperança de quem dorme, e é luz
no travesseiro de quem acorda...

- Os homens constroem realidades
e são apenas sonho no palpável instante
de existir.

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